sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

A cor da saudade



 A noite caía
Nos passos negros
Que revelavam
Este tão incompleto eu
Que a sombra escondia

Eu que me escuto
Que preencho os meus
Ossos
Com a chuva cinzenta que caía
Formando orvalho na minha alma
Sou algo de salgado
Algo de indelével

A sombra do mar

Cheio desta carne que não é minha
Uma carne próxima
Que me toca por dentro
De cada sonho
De cada olhar que o escuro clareia
Na sua imagem dispersa
E infinita

Eu ilumino o escuro
O ar respira-me levemente
Como se também fizesse
Parte de mim
A solidão abraça-me
Num estranho amor
De lágrimas silenciosas

E tenho saudade
Saudade de ter motivos
Para ter saudade de alguém
De alguma cor
Que nunca tornarei a ver
De um sorriso rasgado
Que morrera nos meus
Olhos presos
Nesta imensidão de pensamentos
Que se confundem no sentimento

Nunca pensarei em sentir,
Isso seria anular-me
Cegar-me com pensamentos
Inúteis
E frases vazias
Cheias desta metafísica do nada

Estou triste
Triste por a tristeza
Já ser uma coisa tão natural
Que já nem me apetece estar triste,
Não estou triste de todo
Apenas espero por aquele
Que sei que não vem
Apenas bebo o meu juízo
Numa felicidade estática
E passageira

(Finjo que estou feliz,
Estou cansado de estar triste,
E por breves momentos
Isso roça a felicidade)

Sinto-me como doente
Sinto tudo há minha volta a deslizar
Na voz fina e volátil
De um adeus
Uma sombra mutável
E escura… da cor dos meus pensamentos
( a cor de que tenho saudade, e que abraça as estrelas de cada vez que sonho)

PoReScRiTo

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