domingo, 30 de setembro de 2012

O MEU CANTO



Estou disperso em mim
Nas chamas douradas
Do tempo!
Nos sorrisos presos por um fio

Vivo de luz da fresta da janela
Bebo de águas de esmeralda
Que correm junto da minha janela
Embebido em tempo e desejos!

A debater-se contra as paredes
Frias da escuridão do meu quarto…
As nuvens choram e escrevem com
Gotículas, as páginas da minha vidraça

As nuvens pintam seus códigos no céu
E a lua define-lhes a sua imortalidade
Escrevo no meu caderno
Os textos do céu
Guardados por um manto de névoa
Envolto em mim
Num quarto escuro, meu berço do mundo


Onde guardo as páginas da minha solidão! ...



Ouve-se a voz do vento
Uma voz misteriosa…
Uma língua mais antiga que o tempo
Mais antigo do que a existência da vida

Guarda segredos, que conta a
Quem quiser ouvir…
  


Porescrito



FALTA





Passa este ciclo eterno
Passa a vida por mim
Nem me esboça um olhar
Um perdão

Falta algo em mim
Algo que eu não sei
Essa falta seca-me a vista
Não vejo o que está em mim
Essa intuição de ser eu
De desenhar a vida na minha cabeça
Mas não posso desenhar o que não existe

O que está perdido
Encostado a um canto de mim
Sozinho…

A aguardar a falta
Para ter vida após o fim!
A falta é uma ausência de algo
Não uma ausência de mim…



Porescrito



sábado, 22 de setembro de 2012

cela







ao canto da cela escura e solitária me encontro
oiço o metal da pequena janela da grande porta deslizar
"segue-me!"

a porta abre-se, e atravesso um e depois outro corredor
bastante iluminado, demais até, começo a sentir náuseas

por fim chego a sala, brutalmente iluminada e brutalmente ruidosa
visitantes atiram berros
reclusos atiram berros de volta
no intuito de se fazerem perceber, para além das filas
três filas de grades que os separam
minha irmã, visitante no meio de visitantes
minha única família, desde que fui colocado aqui no hotel
intensificam-se as náuseas, a ponto de insuportáveis
viro costas, o guarda balbucia algo que não entendo
faço-lhe apenas um gesto com a mão e saio da sala

prefiro ficar na minha cela
é escura e silenciosa
isso reconforta-me

;
o imberbere