domingo, 17 de maio de 2015

Trovador do Silêncio


O escuro tacteante
e o dedilhado que começa
no canto mais escuro da memória
os licores reluzem
em rápidos assombros marinheiros,
assomam-se aos balcões
poeirentos e sórdidos
e o sorriso navegante renasce
no canto da boca que transpira
a melancolia e loucura,

Vindo do fundo aguçado
de uma palavra sem hálito,
sem boca e sem motivo,
como um breve nada divagante
que escorrega no verdugo
da incerteza
nas unhas que tacteiam
na sombra sulcada de um sorriso

As palavras conspiram
contra uma ditadura qualquer,
mas a liberdade já é viva
nas ruas e nos dedos
que presos dedilham,
presos,
a uma melodia que sempre fora livre
mesmo antes da tristeza existir

Os olhos enchem-se de escuro
com pedras e terra por cima
como um muro de limos
que os esconde da coerência,
vivem nesta inocência
de não serem mais que escuro
com de nada um pouco mais
(como uma réstia de quociente)

O sangue esvaísse
no som frio de mais uma maré
mais uma fusa que surge
dentro das breves do mar
que começa e acaba
numa das vagas
de compasso findado
 (um calafrio) 

Toca um corpo vazio
dedos grossos e secos
de onde por vezes caiem
flores despidas e murchas
que as antigas valsas ainda pediam

Mais um sorriso desajeitado
que nasce de uma nota enganada,
perdida,
à procura de outra música qualquer 

Mais um copo passa
donde apenas se bebe vazio
que pende das bordas brancas
e desmedidas
sangue puro e transparente,
um silêncio moreno e velho
como uma palavra,

A noite vem a pouco
e pouco dura,
todavia fora pequena
embora a esperasse
ela partia sempre que as luzes
se fechavam
e os candeeiros iluminavam os assombros
e as premonições

Um choro agudo desliza
em seu dedos frios
onde talvez vivesse o inverno
a noite cabia no seu pulso
parado e sozinho
à espera de notícias da sua terra,
Ó navegador desajeitado e perdido 
em teus dedos de abstracção

Tudo fica parado
numa asa branca,
suspensa,
e numa breve se fica
o trovador do silêncio
que dentro dela dorme
e na sua beleza fica
até que seja de manhã
e um novo compasso venha
quase acidentalmente

O olhar rubro e doente
o respirar lento e tabagista
donde um leve fumo
se perde
nas conversas efémeras dos vizinhos,
os sorrisos calvos,
os rostos vazios,
presos na primavera
de uma ilha que ficara por descobrir

(o restelo chegou de longe e a sombra é tudo o que existe)

PoReScRiTo