sábado, 9 de novembro de 2013

Juntos olhávamos o pôr-do-sol




Recordava tristemente
O tempo, em que juntos
Olhávamos o pôr-do-sol
Eles eram pai e filho
Corpo e sangue
Era húmido
Acabado de pintar
Pela nossa imaginação


Ser ardente e feroz
Queimava as sagas
Da nossa língua
Levava-lhe todos os sonhos
Distantes e perdidos


Eras seu guia
Levavas-nos embriagados
Pela carnificina húmida do sol
Sua carnificina era doce e distante
Via-se ao longe, quão bela era a luta
Distante…

Hoje vejo uma mancha gigante
Uma LUX, negra e fria
Aberta no céu
Ela abre a sua carne
Toca-me com seus
Dedos cegos e doentios
Dedos que abrem melancolicamente
A tua sepultura, abraçam-na
Como um avô cego, que é o sol

Hoje descansas corpo solitário
A tua língua nunca mais irá verter
Qualquer palavra…

Olhava-mos juntos o pôr-do-sol
Tu com teus olhos livres tocas o infinito
Eles estremeciam com o latim
Das tuas palavras …

O teu latim que
Andou por mares distantes,
Que combateu o demónio
Em busca do Santo Graal!

Esse Santo cobria o céu
Deixas-te o folclore dos pássaros
Se despedirem de ti,
Eu que ingenuamente
 Morrerei a ouvir o seu canto
Morrerei como a tua língua
Mas ela flutuará pelo espaço
O que foi, e o que é…

Juntos olhávamos o pôr-do-sol
O pôr-do-sol
Numa das suas inúmeras mortes;
Sorria!


PoReScRiTo




quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PENÐULUM





Incoerente eu sou
O assumo brandamente
Como padecente desse mal

Graniticum
Se diz tanto bem da
Consistência
No dialecto
Do popular folclore
Que tudo lambe
Em baile mandado
“… a voz de Deus!”
Se proclama exclamadamente
Sabedoria corrente erecta concludente
Silogismo-me
||| deus é um inveterado lambedor |||

-_-

Que alvitramento
Como se alguma vez
Alguém o fosse…
o é quando
Se lhe antevê
Se lhe favorece
O jeito

Dá muito jeito
A quem o prega
Com interior
Rarefeito
Muito
Contrafeito
Imagem da
Mentira que são
Somos todos
Ao cabo e ao resto
Coerentemente incoerentes
Ou ao melhor favorecer
Incoerentemente coerentes

Assim …
Uma horda
De pendulus
Petulantes
Falsus
Garbosus
Convictus
(in)coerentes
Dictum Liberum arbitrium
VERGONHOSA
A ~CON~SENSUALIDADE
DE TÃO
LAMBIDA
¡MENTIRA!


pH 5.5inco





quinta-feira, 12 de setembro de 2013

P.S.



PASTOR DE SILÊNCIOS



Todos os dias
Guiava os silêncios
A pastar as almas
Esses prados infinitos


Nunca vi o silêncio
Mas já o escutei
Sentia a sua voz
Fraca e velha


O som omnipotente
Espalhava-se pelo mundo
Como uma doença
Ouviam-se os tiros da guerra
Que ecoavam nas ruas


O Mundo era o próprio som
Eram eles que estalavam os corpos
Esses lobos impiedosos
Espicaçavam a carne
Que morria com sofreguidão
Mas em silêncio
Com a Paz do Senhor …


Recolhia os silêncios
Para o seu abrigo
A minha alma que é
Como um poço infinito
Onde a água
Esse ser inerte
Devora os feixes de luz
Que assombram o meu rebanho


 Meu corpo respirava silêncio
Não produzia qualquer som
Vivia em comunhão com o
Meu rebanho de silêncios
Sou silêncio…

Os galhos das minhas árvores
Tocavam o silêncio
Arranhavam-no
Para irem mais além
Para rasgar o manto primordial

As formigas
 Arrastavam-se
Pelos seus túneis de silêncio
Sobre as teias
 Que ruminavam o som

E quando o mundo se apagou de mim
O silêncio morreu
Não tive mais tempo
Porque o tempo
Nunca se cruzara com o silêncio…


PoreScritO




sexta-feira, 30 de agosto de 2013

S.P.



SENHOR PEQUENEZ



Curvo-me ao caminhar
Luto contra o meu consciente
Passa uma formiga
Sinto-me pequeno como ela

Miro o rebanho que passa …

Eu, lobo solitário
Já nem sinto os olhos em meu encalço
Caminho tacteando a folhas de Pequenez
E o vento de solidão
Que passa pela minha tez escura e grossa
Acarinha-a levemente
… Como quem me empurra para dar
Os primeiros passos…

Meu rosto inexpressivo
Segue os caminhos mais difíceis
Alimento-me da carne desse rebanho
De todas as coisas pequenas
Tristes, solitárias

A minha mente absorve
O monótono mundo da Pequenez
Há poucos lobos assim
Com este pensar Pequeno
Que engole o mundo em seco!


PoreScritO




quarta-feira, 17 de julho de 2013

noite felpuda

o vento parecendo frio
conforta o ser
nesta noite de verão

que nos calca os corações
embebidos pela solidão
no seu ninho obscuro

enquanto pássaros felpudos
dançam no restolho
olho corpos celestes
e penso

a estes inocentes bichos
é-lhes vedado
o dom do descabimento
que se sente
no seu olhar intrépido

como os corpos celestes
animais inertes cintilam
no breu restolhado

deitados a olhar os astros
que param de cintilar
para se deliciarem
com aqueles rostos divinos
que se erguem
e lhes roçam a pele
branca e poeirenta
que se assemelha
à dos seus irmãos


o imberbere & Porescrito

sábado, 13 de julho de 2013

MORTOS VAGABUNDOS




Sente-se-lhes o sangue
Que lhes alimenta os rostos
“Morrem”!
Moribundos da dor
Esses “Mortos” vagabundos
Que calcorreiam o destino
Que entregam os seus corpos
Como objectos da vida

Abraçam-se os cadáveres
Pautando o sons dos estalidos e da dor
Que vertem medo
A batalha final!
Onde morrermos, encardidos pela fé
Que nos acolhe num espírito de dúvida

Lutamos contra o campeão de “Deus”
Que nos fere até na podermos mais
Na vida em que engordamos o seio de “Morte”
Em que nos deitamos,
Para lhe saciar a fome.




Eu “Morto” que sou
Consegui vencer a vida material
E encarnar corpos que vivem por mim…




Porescrito





sexta-feira, 5 de julho de 2013

xadrez

mais uma partida
às vezes perdemos a conta
tabuleiro familiar de verniz antigo
ainda lustroso apesar de estalado
acompanha os anos da tua pele
o estalar dos anos
às vezes perdes a conta

a pele castigada pelo tempo
ainda guarda as marcas do trabalho áspero
numa idade em que ser criança
não fazia parte dos planos
;
o imberbere

domingo, 16 de junho de 2013

Luís !




Abre-se uma luz a primeira que penetra a minha carne, nasço de minha mãe , respiro o meu primeiro fio de ar, que ira tecer toda a minha existência, vejo o mundo que me rodeia , que me olha meticulosamente, como se eu fosse o objectivo da vida. Falam e querem que eu saiba falar.
Não quero saber falar.
Para quê saber falar ? Se falar se reduz a emitir sons, usar palavras em que por vezes nem nós acreditamos; quero falar com Deus que criou a minha alma, mas só o posso fazer se manter a transparência na qual nasci, e irei viver no vazio no nada que o (Homem) não vê porque já viu algo já o conhece.
Vou para casa e passado uns dias cedo;e vou aglomerando conhecimento ,aprendi a andar e a falar , e pelo meu caminho encontrei dois velhos que falam sobre a Morte que tanto os fustiga, eu que não vi ainda a Morte e da qual não me perturba .
Um dos velhos pergunta-me:
-Queres conhecer a Morte ?
E eu respondi prontamente:
Sim.
Os velhos riram-se ingenuamente não sabendo que quem respondia era Deus , e que tudo fazia sentido. Então deparei-me com um mistério:
-Essa dita morte será ela o objectivo da vida e não eu? Todos falavam de ela com respeito e algum receio. Minha mãe amava-me como as outras mães amam os seus filhos ,muito protectoras e maternais. E só de pensar que os mesmos segundos de pensamento e de elementaridade decidiriam a vida ou a morte; os meus pais sempre me reconfortaram, quanto á morte,e fiquei com a ideia que as desgraças só aconteciam aos outros.
Numa tarde á hora de almoço ia e sem ter noção do perigo e foi atropelado, as pessoas que assistiram gritavam e choravam,fechei pela última vez os olhos mirei a minha mãe que chorava, e sem oferecer resistência morri!
E descobri que quem mais sofre é quem fica, pois não sofri parti num segundo, e percebi que aquele «sim» fazia sentido pois prefiro ser eu a conhece-la do que ser eu a ficar . Não amava o meu corpo, felizes aqueles que não amam o que iram perder, pois os que amam o seu corpo irão ter que se despedir dele, agora sei o que acontece aos homens quando morrem, pena minha mãe ter que esperar para descobrir,não lhe posso dizer .O meu corpo alimentou animais e plantas serviu de fonte de vida, a minha alma serve de alimento a Deus que somos todos nós!  


dezasseis de junho de dois mil e treze.

dedicado ao Luís A., que foi chamado ainda pequenino !! Mas que espero que esteja rodeado de LuX e de Bem !




Porescrito





terça-feira, 4 de junho de 2013

Sonho~me




O meu inconsciente é meu tormento

Brinca com os meus sentidos

Com as palavras, sons!

Conhece-me bem…

É uma parte de mim

Sou eu

Que me sonho



Sonho-me

Noutro mundo…

Sempre que algo me envolve …

… Lá está ele

O maldito quadro





De um homem velho…

Com um ar carrancudo e sábio

Malvado…

Que levou a criança

Que possuo dentro de mim


*(Esteja onde estiver ele está lá)







Ele faz parte de mim…

Persegue-me, como uma doença





A vontade de ser perfeito…

Sábio, velho

Uma meta infinita…

Que me atormenta





É a personificação da vontade

De conhecer a perfeição



Mentira!



Pois a Perfeição é uma utopia

Uma invenção do Homem



PoreScritO