terça-feira, 15 de julho de 2014

Soprar da noite


De repente
Um manto frio de névoa
Tomou-me o rosto
Ele desaparecia lentamente
Na ilusão do espaço

As ondas de cinza
Renasciam no brilhar
Sujo do astro que se fez rei,
Um púrpura estelar
Incendiava-me suavemente

Uma luz brilhava baça
Como uma noite apagada
A chama crepita na sombra
Um rumor gelado percorria-lhe
As labaredas,
Aquecia as sombras da guerra

A ferrugem crescia
Da carne dos mortos
Uma paz sombria pintava
Aquele lugar de um breu de sangue

Tomei a minha espada
E afundei-me nas lâminas do Inferno
Agarrei-o solenemente
Como uma flor negra
Que me consumia

O vento soprava doente
Em tons monótonos
Línguas de sangue
Rangiam nas portas do céu

E foi ali
Naquele tocar de criança
Que queimei os dedos
Desfazendo-se na cera da infância…
Daquele silêncio ateu

O céu fez luto
Envolvendo-se num negro profundo
Que morria no meu olhar
Pequenas flores de inferno
Luziam para as crianças
Que as quisessem tocar

Os meus olhos eram dois jazigos
Que se uniam como
Duas solidões despertas

Ficaram ali submersas
Duas lágrimas de discórdia
Ficaram ali a arder na pele ausente
Que escutava o meu rosto…

Um ser adormecia
Como uma página de vento
Que soprava nas cinzas

Do desaparecimento…

Ficava solitário a sentir
O soprar calmo da noite…

PoReScRiTo 

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