terça-feira, 27 de maio de 2014

INFINITUS



Acendia uma vela de névoa
Ela luzia cândida
Pintando a noite clara
De um vermelho marginal,
Um olho de criança sonhava lá no alto
No infinito de um sonhar

Ergo as mãos frias e toco o céu,
Como os ramos ateus da minha aldeia,
Seguro um dente-de-leão
Que brotava das nuvens
Ergo-o bem alto acima das estrelas
Enquanto as suas pétalas invernais
Descaem para o rosto rubro do espaço,
O vento desejou acima dos homens,
Desejando no seu assobio metafísico
As labaredas do teu olhar…

Esqueci os teus cabelos de prata
Que varrem os meus olhos
Quando me esqueço de olhar,
O teu perfume a lima morreu
Por entre os pinheiros e ciprestes
Que anunciam a noite no seu bramir seco,
O meu sonhar morreu naquelas ruas passadas,
E agora mendiga nas suas paredes mórbidas

Talvez não pense...
Talvez não sonhe...
Talvez seja a figura do abstrato
A recordar o tempo em que ainda não havia tempo…
E apenas eu existia

Via no rosto dos ramos
O luzir frio de uma aparição ausente
Um silêncio uniforme habitava o Universo,
Eu contornava as suas flores abstratas
Deixando secar a ausência da sua precisão,
Depois de inúmeros silêncios
Nenhum mais existiu,
Nem os cânticos negros da noite
O conseguiram escutar...

 ...Estava tão somente o rosto perene
de uma criança que adormecia,
na jangada das águas do absoluto,
pequenos seixos brilhavam naquele escuro,
como estrelas que se perderam do horizonte...



PoReScRiTo 

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