Nascia pele sem dono,
Formavam-se cadáveres no próprio vazio,
Anjos adormeciam nos ombros de Deus,
Ombros que eram os escombros da minha alma,
Velas ardiam ténues no infindável céu,
Raios de escuridão rompiam a aurora brilhante
Que sustinha a lua.
Um copo ardia na mesa cristalina,
Uma lua tórrida acendia-lhe as feições,
Mosquitos tamborilavam na vertigem da noite,
Rondavam o mistério das paredes mudas daquele
quarto,
A água sangrava no seu empalidecer cálido,
Um vácuo tenso rompia os seus braços frágeis,
Desfiavam-se sons no denso silêncio,
Vícios chegavam das entranhas do eco.
Sombras
ardiam na memória,
Retratos absurdos percorriam as paredes
Numa miragem
escura,
Ossos finos compunham a sombra,
Fluídos vitais escorrem do meu esgar adormecido,
Fecham-se as portas do céu…
A lareira fraca morria no breu,
Mãos de veludo escorrem da sua contradição,
Estendendo as mãos lívidas agarro o fogo
ferido
Pelas bordas
do seu cinzento,
Fito os corvos a tatear as cinzas de uma praia
suspensa
Na sua enfermidade,
Eu era apenas o espetáculo da minha ausência
naquela noite…
Duas pestanas penderam da minha expressão eterna,
Deslizavam suavemente pela minha escuridão
materna
Adormeciam no leito
E desfaziam-se no olhar do seu último
testemunho,
O sol iluminava
o seu inverso
Na inexplicável procura da sua sombra,
Eu era apenas uma recordação do meu ser
Naquele emaranhar
silêncios…
PoReScRiTo
Sem comentários:
Enviar um comentário