sexta-feira, 4 de abril de 2014

O último Sonhar





   Nascia pele sem dono,
 Formavam-se cadáveres no próprio vazio,
 Anjos adormeciam nos ombros de Deus,
 Ombros que eram os escombros da minha alma,
 Velas ardiam ténues no infindável céu,
 Raios de escuridão rompiam a aurora brilhante
 Que sustinha a lua.
 
 Um copo ardia na mesa cristalina,
 Uma lua tórrida acendia-lhe as feições,
 Mosquitos tamborilavam na vertigem da noite,
 Rondavam o mistério das paredes mudas daquele quarto,
 A água sangrava no seu empalidecer cálido,
 Um vácuo tenso rompia os seus braços frágeis,
 Desfiavam-se sons no denso silêncio,
 Vícios chegavam das entranhas do eco.

Sombras ardiam na memória,
 Retratos absurdos percorriam as paredes
Numa miragem escura,
 Ossos finos compunham a sombra,
 Fluídos vitais escorrem do meu esgar adormecido,
 Fecham-se as portas do céu…

   A lareira fraca morria no breu,
 Mãos de veludo escorrem da sua contradição,
 Estendendo as mãos lívidas agarro o fogo ferido
Pelas bordas do seu cinzento,
 Fito os corvos a tatear as cinzas de uma praia suspensa
 Na sua enfermidade,
 Eu era apenas o espetáculo da minha ausência naquela noite…
  
 Duas pestanas penderam da minha expressão eterna,
 Deslizavam suavemente pela minha escuridão materna
 Adormeciam no leito
 E desfaziam-se no olhar do seu último testemunho,
O sol iluminava o seu inverso
 Na inexplicável procura da sua sombra,
 Eu era apenas uma recordação do meu ser
Naquele emaranhar silêncios…


PoReScRiTo 







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