Quem sofre tem o céu à sua espera...
PoReScRiTo
domingo, 28 de fevereiro de 2016
domingo, 21 de fevereiro de 2016
Escuro Humano
Se há vontade,
que a palavra morra e
se faça luz
onde apenas vejo
escuro.
Senão deixem o escuro
ficar, não o levem,
porque ao menos ele
nunca me mentiu.
Não levem o sorriso
veloso que ficou,
debaixo do tapete que
não quer sorrir,
da metáfora que
perdera piada.
Deixem-me numa morte
desumana
porque nunca descobri
o que é a humanidade.
há escuros que
brilham mais que as estrelas distantes,
estrelas que já morreram mas ainda brilham
no céu onde me fico, debruçado num funeral
imaterial do silêncio.
Nem tudo o que brilha é verdade,
nem tudo o que escurece é noite…
O escuro é invenção do homem.
PoReScRiTo
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Sombras de um sonho
Ramos altos e
frondosos
Ausentes na
neblina morna dos pensamentos
A áurea fina
desenha-se na margem quente
De cada sinal
Num bordado
colorido de sombras
A flutuar no
vazio
Cada folha
Cada fio de
cabelo
Não é mais que a
ilusão líquida
Que o sol
decifra
Entre desenhos
molhados
E algo vário e
disperso como um sonho enlouquecido
As raízes
crescem
Entre o silêncio
petrificado
De um chão sepulcral,
Um sorriso
dormente
No chão de cada
palavra que seca sozinha
Entre um ramo
velho e um sonho morto
Que floresce num
novo sentido cada vez mais velho
Tudo é natural
Até a própria
inaturalidade
Quando o vento
escapa
E a razão
desaparece entre as sombras garridas
De um sentimento
incompleto
Todas as folhas
respiram
O silêncio morno
e doce da ilusão
Todos os cabelos
envelhecem em silêncio
Sempre com o
medo artístico de perder a cor
Cada vez mais
viva e presente
Tudo está vivo
Até a própria
terra que pulsa
Até o vento que
fala
As palavras que
ficaram por existir
que se
perderam no horizonte
sombras de um sonho que morreu
PoReScRiTo
Nada Apenas
Rostos simples
Palavras grossas e quentes
Que aquecem os dedos amanteigados
Pelo inverno
Essa estação nostálgica onde o calor
Nos sossega
O calor de cada palavra antecipada
Cada frase antiga
Que estala no verniz do cadeirão, intemporal
A chuva que escorre
Nos meus olhos, nos meus dedos
Cada vez mais febris, onde as lágrimas
Deslizam como ondas
Quase verdadeiras
Quase como a personificação da tristeza
Um sorriso de mármore
Habita o céu
Triste e solitário
O tártaro cinzento aninha-se
Na lua, doente e mortiça
Tudo transpira e respira
A sua própria ilusão
A sua própria tristeza
No nevoeiro que se esconde
No vazio de cada palavra
Parece haver algo sucinto
Algo que se esconde
No sorriso molhado
De qualquer coisa
É como se algo imaterial paira-se
No ar
Enquanto a loucura dos homens
Está acesa
Como uma vela que morre na ilusão
--como se tudo fosse apenas nada--PoReScRiTo
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Estação Morta
O mundo está doente
Envolto em névoa, indecente
Repleto de bafios cor de sangue
Silêncio molhado
Figuras febris, inconstantes, imprecisas
Tudo é uma doença que se propaga
Lentamente
Em cada gesto
Cada sorriso frio de quem já não está
E esta febre de verão nunca mais termina
E depois vem o frio
O silêncio atmosférico da chuva e do vento
O cheiro a almas mortas
Que descansam no chão cru e frio
Do asfalto húmido
Que apodrece regado pela acidez do céu
Tudo foge das suas palavras
Da sua geometria
Nada não passa do sonho e da mentira
Que cada vez são coisas mais parecidas
A ilusão perde o seu encanto
E nada mais é igual a si mesmo
Tudo desaparece na vertigem,
Incolor e deserta da alma
De quem procura um sentido para as coisas
Tudo é um maravilhoso castigo
Que nos prende
Por o fio muito frágil,
Que transpira o sentido
Que nunca vira chegar…
PoReScRiTo
domingo, 17 de maio de 2015
Trovador do Silêncio
O escuro tacteante
e o dedilhado que começa
no canto mais escuro da memória
os licores reluzem
em rápidos assombros marinheiros,
assomam-se aos balcões
poeirentos e sórdidos
e o sorriso navegante renasce
no canto da boca que transpira
a melancolia e loucura,
Vindo do fundo aguçado
de uma palavra sem hálito,
sem boca e sem motivo,
como um breve nada divagante
que escorrega no verdugo
da incerteza
nas unhas que tacteiam
na sombra sulcada de um sorriso
As palavras conspiram
contra uma ditadura qualquer,
mas a liberdade já é viva
nas ruas e nos dedos
que presos dedilham,
presos,
a uma melodia que sempre fora livre
mesmo antes da tristeza existir
Os olhos enchem-se de escuro
com pedras e terra por cima
como um muro de limos
que os esconde da coerência,
vivem nesta inocência
de não serem mais que escuro
com de nada um pouco mais
(como uma réstia de quociente)
O sangue esvaísse
no som frio de mais uma maré
mais uma fusa que surge
dentro das breves do mar
que começa e acaba
numa das vagas
de compasso findado
(um calafrio)
Toca um corpo vazio
dedos grossos e secos
de onde por vezes caiem
flores despidas e murchas
que as antigas valsas ainda pediam
Mais um sorriso desajeitado
que nasce de uma nota enganada,
perdida,
à procura de outra música qualquer
Mais um copo passa
donde apenas se bebe vazio
que pende das bordas brancas
e desmedidas
sangue puro e transparente,
um silêncio moreno e velho
como uma palavra,
A noite vem a pouco
e pouco dura,
todavia fora pequena
embora a esperasse
ela partia sempre que as luzes
se fechavam
e os candeeiros iluminavam os assombros
e as premonições
Um choro agudo desliza
em seu dedos frios
onde talvez vivesse o inverno
a noite cabia no seu pulso
parado e sozinho
à espera de notícias da sua terra,
Ó navegador desajeitado e perdido
em teus dedos de abstracção
Tudo fica parado
numa asa branca,
suspensa,
e numa breve se fica
o trovador do silêncio
que dentro dela dorme
e na sua beleza fica
até que seja de manhã
e um novo compasso venha
quase acidentalmente
O olhar rubro e doente
o respirar lento e tabagista
donde um leve fumo
se perde
nas conversas efémeras dos vizinhos,
os sorrisos calvos,
os rostos vazios,
presos na primavera
de uma ilha que ficara por descobrir
(o restelo chegou de longe e a sombra é tudo o que existe)
PoReScRiTo
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Sonho morto
Sei que estou sozinho
Na liberdade condicionada
Pelo meu corpo
Frio e cansado,
Um trapo velho
Que quer voar com as suas
Asas mortas
Perdidas no céu
Sei que sou uma solidão
Acompanhada de muitas
Outras,
Iguais a mim
Todos nós somos vida
Presa no olhar azul
De um céu triste e grave
que ilumina o nada que somos
que ilumina o nada que somos
Bebo a vida
Que se enterneceu no meu bigode
Sujo e sombrio
Que ficara como uma
Das muitas belas sagas
Da tristeza
Misturavam-se fios grisalhos de
silêncio
Com gotas franzinas de vida
Que se entranhavam
Na carne húmida e abandonada
De um deus menor
Gostava de brincar
Enquanto estava desperto
E depois ao adormecer
Tudo se perdia num leve sono
Que me prendia á existência
E quando dormia
Nunca sonhava
Ou lembrava um sonho
Estava proibido de sonhar
De brincar com a alma
Enquanto o escuro prendia a noite
Neste seu abraço irreal à escuridão
Quando adormecia
O escuro inundava o quarto
Numa leve maré de sombras
Que silvavam
Nos meus ouvidos
Contando em curtos murmúrios
A história do silêncio
A chuva sussurrava ao longe
numa voz que não é a sua
fechava-se na janela embaciada
do meu quarto
confundindo-se no vidro
enevoado
do meu olhar
A chuva sussurrava ao longe
numa voz que não é a sua
fechava-se na janela embaciada
do meu quarto
confundindo-se no vidro
enevoado
do meu olhar
A saraiva cobria o escuro
Num leve sorriso
Prateado e incompleto
que mais parecia um incêndio
suspenso
que morria asfixiado
a um dos cantos da minha alma
que mais parecia um incêndio
suspenso
que morria asfixiado
a um dos cantos da minha alma
Eu ficava sozinho
Meus cabelos e meus olhos
Ficavam da cor do escuro
E por fim todo eu era escuridão
Adormecida pelos abraços abafados
Do vazio
Que me sufocava lentamente
Como uma voz
Que me toca a carne
Ensonada e adormecida…
O meu sonho morria
E eu chorava no silêncio
Que me compunha
Ficava triste por breves
Momentos
Tocava os seus cabelos brancos
De nevoeiro
E soprava-os num instante morto
E perdido
Tocava-lhe as mãos pálidas
Melancolicamente fechadas
-E eu tinha saudade-
Saudade de não poderes vir mais
Brincar comigo
Quando adormecer
Estavas morto
De rosto perdido
Num pedaço infinito qualquer
onde o teu olhar cabia
onde o teu olhar cabia
E eu olhava-te
Nesta arte literal de morrer
Sentia a vida esvair-se
Do teu sorriso estrelado
Abraçava-te uma última vez
E nunca mais te vira…
Ardias no bulício escuro
De uma insónia
E depois desaparecias
Num voo fraco e impossível
Que rasgava a realidade
Na tua doce maneira de voar…
PoReScRiTo
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