segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Este vago sabor a abismo

Estou abraçado ao abismo
ele é velho
como os bancos negros
do jardim
que cintilam como estrelas
de um escuro
no ar frio da manhã

O abismo,
trazia um olhar vazio
um aroma neutro
a céu escondido
um leve perfume
ao simples sabor do nada
que lhe adormece
no rosto doce
pintado a fumo e velhice

Está velho,
este deus dos silêncios e dos nadas
de olhar cru
mas de uma invulgar
profundidade
e pensares metafísicos
tapada pelas cinzas
que a brisa traz

É doce a sua velhice
do sabor discreto do fumo
oculto no céu
-continua infinito-
mesmo depois de se
lhe adivinhar o fim...

O seu sorriso marfim
imitando as nuvens
que desenha em pensamento,
o bulício e a melancolia
as tonalidades que cada vez mais
se confundem em si
parecendo ele ser apenas
uma palavra (abismo)

Eu abraço-o
deixando sempre o seu
nome
por dizer,
como se qualquer um
o adivinha-se
olhando as vagas e fagulhas
dos seus olhos restolhados
que se afundam
no leve som das ondas
da maresia
fina e eterna,
que cada vez mais me sabe
a abismo...

Este vento velho
este abraço antigo de um avô
cada vez mais louco e feliz,
abraço-o
pois sei que ele é irreal
porque na verdade
não existe nada realmente feliz,
só este sabor vago a abismo
que se esconde na neblina da serra
na névoa dos pinheiros
com toda a sua sombra
escondida no linho moreno
do seu casaco de pensamentos...

A areia do mar
um cemitério para os sonhos,
despida pela água
esotérica do seu ventre,
agora guarda
no fervor quente das suas ondas,
dentro do sal
que guarda as mágoas de um povo
este meu vago sabor a abismo...


PoReScRiTo



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