Estou
abraçado ao abismo
ele é velho
como os
bancos negros
do jardim
que cintilam
como estrelas
de um escuro
no ar frio da
manhã
O abismo,
trazia um
olhar vazio
um aroma
neutro
a céu
escondido
um leve
perfume
ao simples
sabor do nada
que lhe
adormece
no rosto doce
pintado a
fumo e velhice
Está velho,
este deus dos
silêncios e dos nadas
de olhar cru
mas de uma
invulgar
profundidade
e pensares
metafísicos
tapada pelas
cinzas
que a brisa
traz
É doce a sua
velhice
do sabor
discreto do fumo
oculto no céu
-continua
infinito-
mesmo depois
de se
lhe adivinhar
o fim...
O seu sorriso
marfim
imitando as
nuvens
que desenha
em pensamento,
o bulício e
a melancolia
as
tonalidades que cada vez mais
se confundem
em si
parecendo ele
ser apenas
uma palavra
(abismo)
Eu abraço-o
deixando
sempre o seu
nome
por dizer,
como se
qualquer um
o adivinha-se
olhando as
vagas e fagulhas
dos seus
olhos restolhados
que se
afundam
no leve som
das ondas
da maresia
fina e
eterna,
que cada vez
mais me sabe
a abismo...
Este vento
velho
este abraço
antigo de um avô
cada vez mais
louco e feliz,
abraço-o
pois sei que
ele é irreal
porque na
verdade
não existe
nada realmente feliz,
só este
sabor vago a abismo
que se
esconde na neblina da serra
na névoa dos
pinheiros
com toda a
sua sombra
escondida no
linho moreno
do seu casaco
de pensamentos...
A areia do
mar
um cemitério
para os sonhos,
despida pela
água
esotérica do
seu ventre,
agora guarda
no fervor
quente das suas ondas,
dentro do sal
que guarda as
mágoas de um povo
este meu vago
sabor a abismo...
PoReScRiTo
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