Esquece
essas coisas
Belas da
vida
Elas nunca
farão sentido
Para ti…
Escuta o
sussurro ambíguo
Lembra-te do
tempo
É a voz que
te roça a carne
Nesse seu
perfume umbilical
Nunca te
toca
Tão-somente
te deseja
E grava no
escuro
Este seu
silêncio de viver
O vento
passa por mim
A brisa
sopra pelas minhas veias
No ranger
fino de habitar
Sei que me
sou
Ao ouvir
estes murmúrios cegos
Estes
olhares surdos
Da madrugada
O romper que há em mim
Está na hora
da despedida…
De não mais
ser
Naquele
momento
Em que mais me sinto
Agora
pergunto-me quem fui
E de que
serviu para mim viver
Todo a brisa
acalma
Todo o horizonte vaza
Todo o olhar
sossega
E nada em
mim é eterno
Nada fica na
minha eternidade
Sou vítima
Destas
minhas pequenas eternidades,
Este vício
De eternizar
O rosto
efémero
De um viver
O sótão está
vazio
Lá brilham
pequenos nadas
De olhar
baço
Estão
enterrados numa cinza
De existir
Eu vivo
nesta arte de me sepultar
Em pequenos
bocados de mim
Que carrego
com o olhar
E afogo
neste ar incompleto
Do vazio,
Desço
lentamente
Enterro-me
em cada olhar
Na parede
brilha o meu rosto apagado
E acabo-me
neste nada de sepultar,
No afogar
destas memórias esquecidas
Que me tecem
A cadeira de
baloiço que apodrece
O cavalo de
cristal que se esquece
As páginas
de um sonho que adormece
Nesta
miragem de viver,
Os silêncios
mais profundos
Emanam da
minha caixa de sonhos
Agora
envolta em poeira,
Outrora
imaginara uma estrela
Que brilhava
no escuro quente da sua sombra
A caixa
acendia esse sonho vivo
Que
florescia ao silêncio de um adeus…
Entre farpas
e fagulhas
Entre cinzas
e pensares
Tempo porque
foste tão carrasco!
Porque
despiste os meus sonhos
De criança,
Agora só são
fantasmas
Espectros
dos meus dias
Que baloiçam
no Inferno
Submerso em alegria
Sou tecido a
prata e a desespero
De ser
aquele que não fui
E por onde o
vento não passa
Por vezes
penso que não senti
Que me
esqueci de viver
Talvez nem
tenha vivido
Porque o fim
é o mesmo para aquele
De quem vive
Viver todos
os dias cansa…
Preferia acordar
por vezes
Neste meu
estar vago
Num desses quartos
onde dorme a eternidade
Um anjo me
desperta
Com o seu
manto bordado a céu
Os seus
cabelos brilhavam a oiro
Como a seara
da manhã
e o seu estar calvo
e o seu estar calvo
E eu vivo
mais um dia
(como se nada fosse...)
(como se nada fosse...)
Esta minha
parte não é de mim
Este meu
sangue não mais será
Meu sangue,
Nesta parábola
de viver
Pensar
sempre será a dor de ser
Nunca valerá
a pena pensar
Porque o
mundo não foi pensado para existir…
Fico aqui
neste desentendimento
Dos astros,
Estou por ar
perdido
No caos de
uma manhã que termina
Num olhar de
criança
Que não mais
irá tornar a voltar…
PoReScRiTo
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